Poxa, O Boticário, precisava? Dia das Mães chegando e hoje fui completamente arrebatada pelo filme que eles produziram pra data. Uma rara peça publicitária sem produto e rara também pra data, que num geral, invisibiliza as mães de adolescentes, parece que só emociona mãe de criança. E é aí que todo mundo se engana. Pra que a gente converse com os mesmos olhos inchados, vou deixar o vídeo aqui pra vocês.

Compartilhei nos meus stories e segundo dados colhidos por mim mesma via DMs, chorou todo mundo. Chorou mãe de adolescente, mãe de bebê, mãe de criança, chorou grávida, chorou quem nem filho tem ainda e chorou também quem filho nunca quer ter.

É que nem todo mundo é mãe, mas em tese, viva ou morta, presente ou ausente, com boa relação ou não, conhecida ou desconhecida, todo mundo tem mãe. E depois de adultas e mulheres feitas, é um pouco doído olhar pra trás e relembrar dos tantos dias e semanas, meses e anos que moramos sob o mesmo teto das nossas mães sem saber de todas as vezes que as deixamos com nós na garganta.

“Quando você tiver um filho, você vai entender!”, muito já ouvimos isso, mas talvez não seja só ao ter um filho. É quando o amor amadurece, quando a visão de mundo se torna mais realista e quando tomamos consciência de que está todo mundo nessa vida improvisando e tentando acertar, que a gente humaniza nossa mãe. É quando a gente se reconhece egoísta enquanto adolescente, que a gente consegue minimamente sentir o gosto amargo que deve ter ficado muitas vezes na boca das nossas mães.

Me doeu de lá e me doeu de cá. Doeu quando olhei os olhos daquela mãe do filme e imaginei a minha própria, mas doeu também de me imaginar naquela situação. Sei que meu filho um dia vai ser adolescente e que toda a minha entrega, devoção, privação, dedicação vão ficar de fora da equação quando ele quiser sair sem hora pra voltar e sem me dizer onde está. Maternidade não é uma conta, não se faz nada esperando algo em troca porque a verdade é que garantir segurança, alimento, educação, acolhimento, saúde e lazer é obrigação e não gentileza. Isso tudo não pode ser jogado na mesa quando às 3h da manhã em 2039 eu estiver esperando sentada na ponta do sofá da sala com o celular nas mãos depois de ter ligado pra todos os amigos do Bento e mandado trezentas mensagens. Provavelmente nesse dia, depois que a porta de casa abrir, eu vou dormir com a faixa de louca no peito e o troféu de dramática do ano.

Adolescer é experimentar, testar, expandir, quebrar correntes. Adolescente precisa de espaço, ainda que com limites, mas é preciso afrouxar um pouco. Confiar. Deixar que alguma inconsequência tenha espaço. O erro, a ousadia, até certa presunção. É na adolescência que a gente mais acha que sabe de tudo, é com o passar dos anos que a gente se dá conta que a gente sabe mesmo é muito pouco e cada vez menos, mas é a vida que mostra, não nossos pais. Não se aprende tão fácil quando nos alertam que a panela tá quente e queima, é só a partir de algumas bolhas nas pontas dos dedos e alguns dias sentido dor que as coisas se confirmam e fazem sentido. Imagino que ser mãe de um adolescente seja fazer um estoque de pomadas cicatrizantes prevendo o que vai acontecer e deixar que ele se queime de vez em quando.

Meu filho tem 3 anos, mas pela velocidade do tempo, os próximos 12 anos vão passar em um piscar de olhos e é na construção da minha relação com ele hoje e no meu processo analítico que eu deposito a esperança de conseguir não levar pro pessoal quando meu filho não quiser minha companhia ou não me fizer relatórios sobre o dia da escola. Que eu não confunda a busca dele pela própria identidade com ingratidão e nem o distanciamento natural com falta de amor. É construir laços e acreditar que eles são firmes, mas como é que mantém-se um laço sem afrouxar a ponto que se desfaça e ao mesmo tempo não aperte tanto a ponto de virar nó?

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Eu sou Hariana Meinke

Há mais de 20 anos postando aleatoriedades na internet pelo simples prazer em compartilhar, desde muito antes de saber que poderia ser um trabalho. Agora é, mas o que me mantém aqui de verdade é a alegria em dividir.

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